
Cantinho do Português
Esta rubrica tem como objetivo informar/esclarecer sobre muitas dúvidas na utilização da língua portuguesa, com as quais nos deparamos no dia a dia e que por vezes não sabemos onde encontrar a resposta. Mesmo procurando em gramáticas ou dicionários, por vezes a explicação que encontramos nem sempre é suficientemente compreensível para quem não domina as teorias subjacentes a uma linguagem mais especializada.
Assim, pretende-se, de uma forma clara, direta e despretensiosa, responder a dúvidas imediatas na utilização da língua portuguesa.
Esta rubrica procurará incluir os domínios da pronúncia, ortografia, léxico, flexão e sintaxe…
Quando nos referimos ao nosso estado de espírito, à nossa disposição, devemos usar o nome masculino o moral.
Exemplo: Ele saiu do exame com o moral elevado.
Quando nos referimos ao conjunto de valores e princípios que devem regular o nosso comportamento, como o respeito pelo outro, a honestidade, a fraternidade, devemos usar o nome feminino a moral.
Exemplo: É esta a moral do filme: o valor da amizade.
Fonte: Sandra Duarte Tavares, Falar Bem, Escrever melhor, A Esfera dos Livros, 1ª edição, 2106
Existe algum pontapé na frase? |
“O polícia exigiu que o condutor fizesse o teste de alcoolémia.”
-
Não, a frase está correta.
-
Sim, não se deve dizer “alcoolémia”, mas sim “alcoolemia”.
A resposta correta é a opção B
O nome alcoolemia designa a presença de álcool no sangue e é de origem grega -emia (haima + ia), o qual exprime a ideia de sangue.
Existem outras palavras formadas por este elemento grego: anemia, leucemia, glicemia, toxicemia… Também alcoolemia é uma palavra grave, cuja sílaba tónica é a penúltima
(mi), pelo que não deve ser grafada com acento gráfico.
Fonte: DIAS, Joana e TAVARES, Sandra Duarte - Pontapés na gramática, Porto: Areal Ed., 2013
aderência - união entre superfícies
Exemplo: Esta fita-cola perdeu a aderência.
adesão - aprovação, concordância
- Exemplo: A adesão dos alunos ao projeto ambiental foi de 100%.
Fonte: TAVARES, Sandra Duarte - Falar bem, escrever melhor, Lisboa: A Esfera dos Livros, 2016
ao encontro de / de encontro a |
ao encontro de - na direção de, de acordo com
Exemplo: É nosso desejo ir ao encontro das expectativas dos clientes.
de encontro a - contra
Exemplo: A menina ia a correr e foi de encontro à parede.
Fonte: TAVARES, Sandra Duarte - Falar bem, escrever melhor, Lisboa: A Esfera dos Livros, 2016
O nome bocado, associado à forma verbal há, indica um valor temporal, sinónimo de “um pequeno intervalo de tempo”. É possível substituir, neste caso, a forma verbal
há pela forma verbal faz.
Exemplo: Há bocado encontrei o João. = Faz um bocado (de tempo) que encontrei o João.
Fonte: TAVARES, Sandra Duarte - 500 Erros mais comuns da língua portuguesa. 6ª edição, Lisboa: A Esfera dos Livros, 2015
“A um habitante da Madeira chamamos madeirense, a um dos Açores chamamos…”
A. açoriano
B. açoreano
A resposta correta é a opção A
A palavra açoriano é formada pelo sufixo -iano, que entra na formação dos nomes como canadiano e cabo-verdiano. Esse sufixo associou-se ao singular açor, dando, assim,
origem, à forma açoriano, com i.
Fonte: DIAS, Joana e TAVARES, Sandra Duarte - Pontapés na gramática, Porto: Areal Ed., 2013
A forma verbal atraem está na 3ª pessoa do plural do presente do indicativo do verbo atrair e escreve-se sem “i” entre a vogal “a”e a vogal “e”. A colocação da vogal “i”
acontece na oralidade (e com implicação na escrita) com o objetivo de estabelecer a ligação entre duas vogais em hiato (encontro de duas vogais que não formam ditongo).
Exemplo: Os festivais de verão atraem muitos jovens.
Fonte: TAVARES, Sandra Duarte - 500 Erros mais comuns da língua portuguesa. 6ª edição, Lisboa: A Esfera dos Livros, 2015.
“Cada um dos caracteres tipográficos designa-se…”
A. caráter
B. caráter
A resposta correta é a opção B): caráter.
Caráter provém do grego kharákter, pelo latim character e significa não só “personalidade, temperamento, índole, génio de uma pessoa”, mas também todas as acessões relativas a
letras, tipos ou sinais, no domínio da tipografia e da informática. O seu plural é carateres.
Fonte: DIAS, Joana e TAVARES, Sandra Duarte - Pontapés na gramática, Porto: Areal Ed., 2013
Concordância com o verbo TRATAR-SE DE
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O verbo tratar, sempre que é acompanhado da preposição de, não se conjuga no plural, uma vez que é um verbo impessoal (substituível pelo verbo ser). Assim, nunca exibe
concordância com o grupo nominal que se lhe segue, ainda que esteja no plural.
Exemplo: Esses mamíferos? Julgo tratar-se de linces-ibéricos.
Fonte: TAVARES, Sandra Duarte - Falar bem, escrever melhor, Lisboa: A Esfera dos Livros, 2016
A palavra áudio designa o conjunto de técnicas usadas na gravação e transmissão de sons. Provém da forma latina audio, que correspondia à 1ª pessoa do presente do indicativo do
verbo audire (ouvir). Na sua adaptação ao português, a palavra tornou-se esdrúxula, pelo que a vogal “a” dever ser grafada com acento agudo.
Exemplo: A gravação foi feita em áudio.
Fonte: TAVARES, Sandra Duarte - 500 Erros mais comuns da língua portuguesa. 6ª edição, Lisboa: A Esfera dos Livros, 2015.
O advérbio através é formado por prefixação (a + través) e significa “transversalmente, de lado a lado”. Escreve-se com um “s” final.
Exemplo: Tivemos uma reunião através do Zoom.
Fonte: TAVARES, Sandra Duarte - 500 Erros mais comuns da língua portuguesa. 6ª edição, Lisboa: A Esfera dos Livros, 2015.
Corrija o pontapé lexical na frase
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“Depois da audição, o juiz emitiu um mandato de captura contra esse homem.”
A. Deve dizer-se “omitiu” e não “emitiu”
B. Deve dizer-se “mandado” e não “mandato”.
A resposta correta é a opção B): Deve dizer-se “mandado” e não “mandato”.
O nome mandado provém do particípio passado do verbo mandar e designa uma ordem oficial do tipo imperativo. Por exemplo: “Depois da audição, o juiz decidiu emitir um
mandado de captura contra esse homem.”
O nome mandato designa o período durante o qual alguém detém os poderes de cargo para o qual foi eleito, por exemplo: “O mandato do presidente está quase a terminar.”
Fonte: DIAS, Joana e TAVARES, Sandra Duarte - Pontapés na gramática, Porto: Areal Ed., 2013
A concordância sintática é a relação sintática estabelecida entre duas palavras, no que diz respeito ao género, número e pessoa.
Vamos ver algumas regras de concordância sintática:
1. Concordância entre o sujeito e o predicado
O verbo deve estar no plural nos seguintes casos:
a) Quando o sujeito ocorre depois do verbo:
Exemplo: Abençoadas férias!
b) Quando o verbo ocorre antes de um sujeito composto (significa mais do que um sujeito na frase):
Exemplo: Chegaram os alunos e os professores. (“alunos” e “professores” são o sujeito da frase)
c) Quando o verbo ser ocorre com um predicativo do sujeito no plural.
Exemplo: A vida não são rosas (“rosas” é o predicativo do sujeito).
d) Quando o verbo ocorre com a expressão “um dos que”, e o antecedente está no plural.
Exemplo: Este é um dos alunos que ganharam prémios.
O verbo deve estar no singular nos seguintes casos:
a) Quando o sujeito é constituído por dois infinitivos.
Exemplo: Praticar exercício físico e comer moderadamente traz benefícios para a saúde (“Praticar” e “comer” estão no infinitivo).
b) Quando o sujeito é o pronome relativo quem.
Exemplo: Fomos nós quem resolveu o problema.
Fonte: Sandra Duarte Tavares - Falar bem, escrever melhor, Lisboa: A Esfera dos Livros, 2106
Concordância com o verbo HAVER
O verbo haver, quando verbo principal, só se conjuga na 3ª pessoa do singular porque é um verbo impessoal (há, houve, havia, haverá, haveria morangos).
Esta regra aplica-se também quando este verbo é acompanhado de verbos auxiliares, tanto nos tempos compostos (com o verbo ter), como nas conjugações perifrásticas (com os verbos estar, passar, continuar, ir, etc.), que também não podem ser conjugados no plural.
Exemplos: Havia morangos no mercado.
Ainda deve haver vagas para o concurso.
Fonte: Sandra Duarte Tavares - Falar bem, escrever melhor, Lisboa: A Esfera dos Livros, 2106
Verbos com preposições
Verbo passar a pode significar
- Mudar de atividade, de ação
Exemplo: Vamos passar à votação.
- Mudar de condição, estado ou situação, ascender a
Exemplo: Este ano passo a efetivo.
- Ir para
Exemplo: Os presentes passaram à sala de refeições.
Fonte: TAVARES, António e MORANGUINHO, JORGE - Prontuário de verbos com preposições, Lisboa: Plátano Editora., 2008
Cidrado ou Siderado?
Forma correta: siderado
O adjetivo siderado tem na base o verbo siderar, que provém do latim siderare e caracteriza alguém que fica sem reação, perplexo, pasmado com alguma coisa.
A palavra cidrado designa doce feito com cidra (o fruto da cidreira).
Exemplo: Estou siderada com este acontecimento.
Fonte: TAVARES, Sandra Duarte - 500 Erros mais comuns da língua portuguesa. 6ª edição, Lisboa: A Esfera dos Livros, 2015.
Escolha a frase correta
- Hoje faço tensão de sair mais cedo da escola.
- Hoje faço tenção de sair mais cedo da escola.
A resposta correta é a opção b): Hoje faço tenção de sair mais cedo da escola.
O nome tenção significa “intenção”, vontade, propósito.
O nome tensão significa “estado do que está tenso; estado de ansiedade, de inquietação”.
Exemplo: “O medo faz as pessoas viverem debaixo de tensão.”
Fonte: DIAS, Joana e TAVARES, Sandra Duarte - Pontapés na gramática, Porto: Areal Ed., 2013
Complete a frase
“Se ele é uma pessoa despicienda...”
- merece desprezo
- merece respeito
A resposta correta é a opção a): merece desprezo.
O adjetivo despiciendo tem origem no latim despiciendu (gerúndio de despicere (desprezar) e designa alguém ou algo que merece desprezo.
Fonte: DIAS, Joana e TAVARES, Sandra Duarte - Pontapés na gramática, Porto: Areal Ed., 2013
Devido a / Derivado de
A palavra devido corresponde ao particípio passado do verbo dever-se, motivo pelo qual requer a mesma preposição que esse verbo: dever-se a. Significa “por causa de”
Exemplo: O incêndio ocorreu devido a uma fuga de gás.
A palavra derivado corresponde ao particípio passado do verbo derivar, razão por que requer a mesma preposição que esse verbo: derivar de. Significa “que tem origem em”.
Exemplo: O incêndio derivou de uma fuga de gás.
Fonte: Sandra Duarte Tavares - Falar bem, escrever melhor, Lisboa: A Esfera dos Livros, 2106
Conti-me ou contive-me
Forma correta: contive-me
A forma verbal contive-me corresponde à 1ª pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo do verbo conter. Os verbos compostos conjugam-se de acordo com o paradigma de flexão do verbo que está na sua base. Assim, o verbo conter tem na sua base o verbo ter, logo, a 1ª pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo é contive,tal como tive.
Exemplo: Contive-me para não falar enquanto ele falava.
Fonte: TAVARES, Sandra Duarte - 500 Erros mais comuns da língua portuguesa. 6ª edição, Lisboa: A Esfera dos Livros, 2015
Complete a frase
“Uma coisa que estorva, que é um embaraço designa-se...”
- empecilho
- impecilho
A reposta correta é a opção a): empecilho
O nome empecilho refere um obstáculo, um impedimento à realização de alguma coisa e provém do castelhanoimpecillo.
Fonte: DIAS, Joana e TAVARES, Sandra Duarte - Pontapés na gramática, Porto: Areal Ed., 2013
Não se deve dizer
- em duas metades
iguais
- ·
outra alternativa
principal protagonista
- monopólio
exclusivo
- sintomas
indicativos
- tenho um amigo
meu
Fonte: Sandra Duarte Tavares - Falar bem, escrever melhor, Lisboa: A Esfera dos Livros, 2106
Encontraremo-nos ou Encontrar-nos-emos?
Forma correta: encontrar-nos-emos
Dum modo geral, os pronomes pessoais átonos (- me, - te, - o, - a, - nos, - vos, - os, - as, - lhe, - lhes) colocam-se depois do verbo.
Exemplo: Encontro-me contigo depois da escola.
Todavia, no futuro do indicativo e no condicional, esses pronomes colocam-se no meio do verbo, antes das terminações de tempo e pessoa.
Exemplos: Encontrar-nos-emos depois da escola.
Encontrar-nos-íamos depois da escola, se eu pudesse.
Fonte: TAVARES, Sandra Duarte - 500 Erros mais comuns da língua portuguesa. 6ª edição, Lisboa: A Esfera dos Livros, 2015
Adapte bem os empréstimos
Algumas palavras estrangeiras importadas para a nossa língua sofreram alteração gráfica.
Empréstimo
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Forma portuguesa
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atelier
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ateliê
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bâton
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batom
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biberon
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biberão
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boutique
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butique
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buffet
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bufê
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chic
|
chique
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click
|
clique
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Fonte: Sandra Duarte Tavares - Falar bem, escrever melhor, Lisboa: A Esfera dos Livros, 2106
Forma correta: Há três anos
A expressão “há três anos” engloba o valor semântico de “tempo passado decorrido”, veiculado pelo verbo haver, pelo que é redundante o uso do advérbio atrás. Dizer “há três anos atrás” é assim, um pleonasmo, isto é, uma ideia repetida.
Exemplo: Iniciei o meu curso há três anos.
Fonte: TAVARES, Sandra Duarte - 500 Erros mais comuns da língua portuguesa. 6ª edição, Lisboa: A Esfera dos Livros, 2015.
Substitua o adjetivo “aceite” por um sinónimo
“O meu requerimento foi aceite.”
a) O meu requerimento foi diferido.
b) O meu requerimento foi deferido.
A resposta correta é a opção b): O meu requerimento foi deferido.
O verbo deferir significa aprovar, conceder, outorgar”.
O verbo diferir significa “adiar, transferir para outra data”, por exemplo: “Esse programa vais ser transmitido em diferido.”
Fonte: DIAS, Joana e TAVARES, Sandra Duarte - Pontapés na gramática, Porto: Areal Ed., 2013